domingo, 11 de agosto de 2019

Afetividade na coisa pública: dá merda

A afetividade aplicada à coisa pública é uma merda. O diabo é que nossa cultura política é simplória demais, nos levando, sempre, a agir com emotividade onde caberia apenas, pelo bem comum, a racionalidade. Aderir a um político de forma irracional é como se comportar tal qual a mãe que vai ao presídio todo fim de semana levar a marmita do filho amado para obter notícias sobre seu estado de vida. Perguntada sobre a gravidade do ilícito que levou o rebento ao presídio - latrocínio -, limita-se a dizer: "doutor, quando me falam que fulaninho fez essas coisas, não acredito. Tudo em que penso é nele, pequenininho, nos meus braços, com aquele olhar cheio de amor para mim". Li algo assim no livro de Dráuzio Varela sobre o Carandiru. As palavras iam nesse sentido, no trecho ora recordado. Nesse caso, a moleza da mãe é justificada. Amor incondicional, entre mãe e filho, é totalmente justificado. Ser pai ou mãe é um liame irrevogável. Você vai com seus filhos até o inferno, sem precisar se explicar. Todos nós entenderemos.
Entretanto, um gestor público que age dessa forma é um criminoso. Um cidadão que elege suas preferências políticas nessa base, um tolo. As redes sociais elevam à enésima potência essa emotividade nossa de cada dia. Foi assim que Jair Messias Bolsonaro virou presidente. Esse tipo de expediente midiático - redes sociais, memes e ódio - levou Sérgio Moro à condição de Juiz celebridade.
Eu tenho severas restrições em relação a amor, ódio e paixão na vida pública, na seara da política. Esses sentimentos não levam a coisa boa. A Alemanha nazista nunca me deixará mentir, com sua História pesada - e indelével. O Brasil de Jair Messias Bolsonaro está se tornando caso para estudo sobre autoritarismo, a largas passadas. Só torço para que a sua escalada de violência não seja tão explícita como foram os fornos de cremação dos campos alemães. Confrontados com o livro "Minha Luta", da lavra de Adolf Hitler, os alemães da era das ascensão do Führer à Chancelaria do Reich diziam que o sujeito "estava brincando", que "ele não é mais assim". Tal qual a benevolente mãe que visita o filho latrocida e apenas pensa na inocência de sua passada infância. "Ele só está brincando. " Eu ouvi essa conversa ano passado, incontáveis vezes. E, assim, com essa seriedade no trato da vida coletiva, Bolsonaro é o nosso presidente. Deus nos ajude.

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