domingo, 11 de agosto de 2019

Jair Messias Bolsonaro, o cinéfilo

O presidente acha relevante comentar o que para ele são deméritos do filme "Bruna Surfistinha", com o objetivo de questionar a forma de financiamento, com dinheiro público, do cinema nacional.
Ridículo. Pois é ridícula a "ofensa" que sentem os autoproclamados virtuosos morais com esse filminho para adolescentes punheteiros, adultos solitários, sociólogos, antropólogos, filósofos, psicólogos, policiais, sacerdotes - ou apenas um casal de funcionários públicos que quer passar um tempo junto numa noite perdida de uma sexta-feira qualquer, após a pizza sagrada. De resto, é um filme "assistível". Divertimento light, a despeito da história pesada. Há até o bom e velho final feliz, o que, de certa forma, aproxima o troço do sempre bem-vindo conto de fadas. Nada demais em "Bruna Surfistinha".
A verdade é que as pessoas que se ofendem, ou se dizem ofendidas, não sabem o que é uma boa duma putaria. Putaria que, aliás, é coisa muitíssimo da saudável, agradável e inocente. Havendo consenso e maioridade legal entre as partes - e proteção contra DSTs, claro -, vale tudo, nessa que é uma das mais deliciosas experiências do ser humano. É preciso parar de ter medo de putaria.
Quanto ao assunto específico da película, esse filme da Bruna Surfistinha é peça com conversa de Sessão da Tarde. Só ofende quem não a viu - mas mesmo assim não gostou - ou quem é doentiamente pudico. É um filme que conta uma historinha que despertou interesse nas pessoas, goste-se disso ou não. Se chamou tanto a atenção e existe o financiamento público, por quê não recebê-lo, por quê não concedê-lo à história cinegrafada dessa ex-meretriz que, embora com méritos que se possam considerar duvidosos, alcançou tamanha notoriedade e despertou tamanho interesse? Mais que isso, o filme trata, ainda que tangencialmente, de questões pungentes de nossa sociedade, e.g., a proeminência da internet, dos blogues, redes sociais e quejandos na contemporaneidade, influindo de forma maciça na vida humana. Dito em português direto: Bruna Surfistinha é uma ex-puta que cresceu e se tornou famosa graças à internet. Do mesmo modo que Jair Messias Bolsonaro - um ex-militar de carreira medíocre, parlamentar do baixíssimo clero, um homem tosco e ridículo - alcançou a presidência. Via internet.
Curiosa similaridade. Pensando bem, o filme parece demais com o surgimento do líder do Brasil de hoje. Talvez por isso Bolsonaro o ache tão lastimável: ele, um Presidente da República, se assemelha mais com Bruna Surfistinha do que gostaria de parecer... Estranha semelhança...
A tropa de choque virtual do presidente, os bem nominados bolsominions, não param de ressaltar que "nos EUA, sim, a coisa corre escorreita", vez que pelas plagas yankees o financiamento seria privado. Será? É engraçada a suposição de que o cinema dos EUA floresceu sem suporte público... Muito engraçada MESMO! Hoje em dia o governo concede isenções fiscais para os particulares norte-americanos que financiem produções cinematográficas. Ora, se o governo aceita que deixe de entrar uma certa quantia em seus cofres, desviando esse numerário para fins outros, ele está financiando, sim, com dinheiro do erário, essa determinada atividade para onde corre o fluxo financeiro. Mas isso é demais para a "ilógica lógica" dos apoiadores do presidente Bolsonaro.
Quanto aos filmes da predileção do presidente, Jair Bolsonaro gosta mesmo é de "golden shower". Entre homens homossexuais, durante o carnaval. Vivi 36 anos sem saber que existisse essa espécie de manifestação sexual - contra a qual nada tenho, é de se sublinhar - em época de festa carnavalesca. Foi preciso que Jair Messias Bolsonaro se tornasse presidente para que eu tomasse conhecimento de tal prática. Muito lúdico, pedagógico e culto, o nosso presidente. E puro.
Podemos conhecer muito o rol de prioridades de uma pessoa pela espécie de filme que ela assiste, pela espécie de assunto sobre a qual insiste em tagalerar, pela arte que aprecia. Outro dia, assisti em ritmo de maratona a série "Chernobyl", da HBO, e a semelhança me estupefou. O Brasil atual está a cara da União Soviética dos anos 1980. Jair Bolsonaro e seu círculo nada devem ao típico político da Moscou, na chamada década perdida. Homens de extrema esquerda e de extrema direita terminam se encontrando. Na suprema - extrema - arte de ser ridículo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário